GANGREL
Numa cabana ao sopé dos Alpes Marítimos. Próxima a trilha dos caçadores. Vivia a bela moça, o nona filha da família, com sua mãe doente. Ela descendia de Ligúria, o povo antigo. Você desconfiava que seu pai era Francês.
A cabana vivia solitária desde o casamento da sua última irmã que morava na cabana. Todas se casaram. Dos irmãos vivos, os gêmeos partiram para guerra e não voltaram mais. O mais velho ainda é escudeiro de algum nobre de Marselha.
- BATE-SEBA! Era como sua mãe te chamava.
- Tenho sede - sua mãe pedia. Não se importava. Já era comum pegar água no córrego que vêm das montanhas.
Mesmo a noite a trilha era fácil para pés treinados. Também recolhe lenha, as estrelas surgem. O sino da abadia no fundo vale marca o inicio da noite.
Retornando pela trilha. Barulho estranho de pássaros. Algum animal deve ter passado perto da cabana. A subida é difícil com a lenha.
De longe a cabana surge entre as árvores. Algo errado com ela. A porta está arrombada.
Aproximando devagar, já do portal se vê aquele homem, mesmo sem lua, a figura daquele selvagem domina a sala. O sangue escorre por seu braço sujo, com somente uma mão ele segura o que parece ser um corpo desfigurado... Ele se vira... Mirra seus olhos por um instante... Olhos de um homem furioso! Somente a morte espera desse confronto.
***
LASOMBRA
No Ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1191, após vários meses de assédio a Saint-Jean-d'Acre, o verão na Terra cobra seu preço. A glória de lutar ao lado dos reis da cristandade se esvaiam como água na areia. O Papa Gregório não escreveu em sua convocação que morrer de sede garante uma boa norte aos olhos do Nosso Senhor.
Aguardamos a proteção da noite. Dizem que o Rei Philippe aguarda o frio da noite para atacar. Muitos cavaleiros não desejam aguardar, mas o Grão-Mestre não quebraria sua promessa. A cada minuto o nervosismo aumentava, todos olhavam atentos para o pôr-do-sol.
Richard, Cœur de Lion, urra a cada ataque das manganelas: Catapulta de Deus e Mau Vizinho. Em breve entraremos...
No acampamento, muitos afiam suas espadas. Outros procuram os padres para confessar seus pecados. Um frade convida alguns guerreiros para serem abençoados pelo Bispo de Nice. Receber as bênçãos de um bispo era algo raro. Somente três guerreiros foram escolhidos para adentrar em sua tenda.
Próximo as palmeiras litorâneas, no acampamento dos clérigos. A tenda do Bispo era destaque, nenhuma abertura ou buraco se via. E dentro, nenhum luz entrava, mal se enxergava os arabescos nos tapetes. Somente as velas do altar iluminam o rosto do Bispo. Os padres e frades ajoelhavam em sua volta. As palavras em latim ecoam no silêncio. A eucaristia do Nosso Senhor trouxe um ânimo para o espírito. Um vinho forte de gosto metálico e um pedaço pão são oferecidos. A confiança é renovada com o olhar do Bispo e as palavras das Santas Escrituras.
Inicia-se para batalha. Ao que parece o Bispo destacou os três cavaleiros na linha de frente. A luta feroz se seguiu para dentro dos muros. Na vanguarda, os três templários parecem lutar sozinhos, nenhum reforço foi mandado. A noite subia, e dos três somente um sobreviveu. Ferido, somente a espada mantinha seu corpo em pé.
Ao longe o reforço chega. São os frades a serviço do Bispo. Eles deixam os outros dois, rastejando de volta para tenda o único sobrevivente... Deitado, com os olhos semiabertos, as palavras do Bispo são claras...
- Achei meu sucessor.
RAVNOS
Nas ruas de Barcelona, a vida de um cigano era muito difícil. A margem da sociedade, sobrevivendo do que encontra nas ruas. Pequenos furtos de comida ou de bolsas cheias de moedas eram sua principal ocupação.
Quando moça, as joias e seu brilho fascinavam sua alma. O contraste das cores com sua vida pobre sempre levou você para o encontro desses tesouros. Seja pelo furto ou pela sedução, você sempre tinha em mãos alguma joia de valor.
O ourives de Barcelona, amigo da sua família, era um bom comprador, pois raramente perguntava a origem daqueles objetos vendido. Ensinando vem ou outra os segredos do ofício e informando quem estava esbanjando riqueza pela cidade. Dele soube a informação que um nobre mouro havia chegado recentemente.
Com a lua já alta. As ruas escuras levam até a residência do mouro. A opulência e o luxo da casa chamam sua atenção. Os guardas noturnos passam sem perceber sua presença. Entrar pela janela foi muito fácil. O quarto do nobre estava vazio, o que facilitou ainda mais em vasculhar por tesouros.
Um barulho mais alto denuncia suas atividades e antes que percebesse um homem da pele morena, com roupas de luxo e anéis de ouro nos dedos olha com sorriso.
Impossível fugir, uma cimitarra pendurada na cintura tira a ideia de ataca-lo. Somente a sedução poderia ajuda-la. E assim, noite adentro, sua palavras e seu corpo embalam o mouro. Mas no final, quem foi seduzida é você.
Noite após noite, sempre volta para residência do nobre mouro, atendendo suas necessidades e realizando pequenos serviços para ele. Mas diferente de uma paixão, sua vontade de vê-lo era uma obsessão. E os estranhos hábitos noturnos e segredos horripilantes passam como vento, sua mente só pensava em ficar com ele.
Mas a caravana da sua família iria partir. Não podiam mais ficar na cidade. E sua paixão pelo mouro não era maior do que da sua família.
Na noite que anuncia sua partida, o nobre mouro se revela como uma criatura sobrenatural descendente de vampiros da distante Índia. E com o segredo revelado, um pedido é feito:
- Minha bela, mude seu nome e seu destino por mim, partilhe a imortalidade comigo?
Sua paixão o fez prontamente aceitar o pedido. E o gosto do sangue dele embala sua memória até hoje. Em sua despedida, ele entrega um colar de joias com pedras esmeraldas e diz:
- Esmeralda é seu novo nome, pois mesmo junto da sua família, você não é mais como eles. Somente eu e você somos um agora. Sempre me escreva, estarei esperando pelas suas cartas e seu regresso. Adeus.
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